Aqui na Holanda, pelo menos na universidade onde trabalho, os grupos têm um "Lab day" todos os anos. Durante esse dia festivo, os membros dos grupos de pesquisa passam o dia a fazer atividades juntos (dizem que é para estreitar os laços). Esse ano foi meu sexto "Lab Day" e achei tudo tão típico que resolvi documentar por aqui.
E por que eu digo que foi típico dia holandês?
Primeiro a começar pelo tempo. Estava um pouco frio (para os brasileiros eu diria MUITO frio) e choveu uma chuva chata o tempo todo. Isso é típico.
Segundo porque, mesmo com o mau tempo, nada foi cancelado e não tinha nenhum plano "B". O planejamento detalhado e falta de flexibilidade frente a algum problema também são típicos. O percurso de 8Km até o local do "evento" foi feito de bicicleta debaixo de chuva (quer coisa mais típica?). Eu fui logo tratando de pegar carona de carro com a Patrícia, outra brasileira do grupo.
O terceiro lugar em "tipicidade" foi para as atividades ao ar livre. Holandeses adoram o contato com a natureza e adoram fazer esforço físico...rsrsrs. O "grupão"foi dividido em grupos menores que iriam competir entre si. Tivemos que construir uma balsa e usá-la; corrida de obstáculos; arco e flexa; fazer uma torre de madeira e subir nela e mais outras coisas que eu não conseguiria explicar direito. Mas cada grupo ia em separado e um não via o que o outro fazia (cadê a graça?).
No quarto lugar ficou a preocupação ambiental. Já explico; vamos colocar num contexto:
Por causa das três razões anteriores, vocês já devem imaginar a situação do pessoal ao fim da tarde, certo? Bem, a maioria dos holandeses e nenhum estrangeiro (que deve ser a metade do grupo) levou toalha e roupas extras. Eu cheguei no salão de jantar molhada, suja de lama, com frio e cansada. Vi que o primeiro grupo já estava debaixo de um aquecedor de teto bem gostoso e todos tomavam cafés ou chás. Ótima idéia! Fui lá pedir meu capuccino! O rapaz do bar deixou o leite fervendo e espumante escorrer e molhou ao redor do copo de papel. Eu pedi um guardanapo para limpar e daí é que veio a preocupação ambiental: aqui nessa terra a coisa mais difícil de encontrar é guardanapo! Pode ser o quitute mais gorduroso do mundo, mas nada de guardanapo. Às vezes eles têm escondido e só dão UM, se a pessoa pedir; os outros que se contentem em lamber os dedos (e lambem!) ou limpar na roupa (e limpam!). Quem sai com criança leva uns lencinhos úmidos descartáveis para limpar os filhos e alguns até se aventuram na pia do banheiro, quando é possível.
Pois bem, voltando ao assunto do meu copo de papel sujo de leite quente, o rapaz do bar foi muito simpático e solícito e deu uma olhada em volta e disse que não tinham guardanapos e fez uma brincadeirinha sobre a importância de preservar a natureza (dããã), mas me pediu pra esperar um pouco. Daí ele entra por uma portinhola e sai alguns segundos depois segurando um bolinho de papel higiênico! Como já etsou acostuma com essa finesse tipicamente européia, aceitei, agradeci e limpei meu copo de papel com papel higiênico.
Viu como funciona a lógica holandesa? Guardanapos de papel poluem o ambiente e não devem ser usados ;)
Mas falando sério...apesar das tipicidades norte-holandesas, o dia foi agradável e divertido! (e essa semana tá cheio de gente de nariz entupido e com dor de garganta no trabalho)