sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Falando difícil

         Aqui em casa a mesada funciona de modo diferente. Ganha dinheiro quem cumpre as obrigações. E eles levam a coisa muito à sério mesmo! Por exemplo, acordar para ir para a escola sem resmungar e se arrumar sem enrolação vale 1 real; caso se chegue atrasado na escola por algum motivo desses, o real daquele dia é perdido.

      Daí que outro dia estávamos já correndo contra o tempo e bendito do elevador não chegava. Até nos darmos conta de que o treco estava quebrado (para variar) e descer cinco andares de escadas com mochilas e sono, lá se foram uns 5 minutos. E entre afobação e pulinhos apressados nos degraus, Victor vai me explicando:

- Olha mamãe, mesmo se a gente chegar atrasado hoje, vamos ganhar um real, não é? afinal não foi nossa culpa o elevador ter quebrado: isso foi uma ADVERSIDADE.

Posso com isso?!


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       Semana passada fomos novamente visitar Petrópolis porque da outra vez o Museu Imperial estava em greve. Os meninos, especialmente Victor, estavam empolgados para conhecer a família real das aulas de história. Nossa, como se divertiram! A coroa foi a coisa favorita do dia; os móveis suntuosos arrancaram expressões de surpresa e a feiura dos imperadores também foi um dos temas para discussão. Ficaram chocados com a escravidão e com a maldade dos europeus da época. Divertiram-se fazendo as contas das idades que as pessoas tinham quando morreram. E aí calcularam que Dona Maria, a louca, havia partido dessa para melhor aos 39 anos de idade. Ficaram perguntando, incansavelmente (quem é mãe me entende...rs), sobre a causa da morte de Dona Maria tão nova e é claro que eu não sabia. Na segunda-feira, voltando no carro da escola, eles disseram ter desvendado o grande mistério.
 
- Mamãe, a gente já sabe como morreu D. Maria louca! (Victor)
- É? e do que foi?
- Ela subiu numa pedra e pulou. (Victor)
- Sério??? e por que ela fez isso, gente???
- Porque ela era louca e achava que podia voar, ué. (Daniel)
- Nossa, então era louca mesmo porque todo mundo sabe que quem voa é passarinho, né?
- Sim, ela deveria ser a monarca mas nunca GOVERNARA, pois era louca. (Victor)


E eu achando que teriam dificuldade no português. Quantas crianças, na idade deles, usam essas palavras?

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Rapidinha da copa

   Victor agora tem outra matéria favorita na escola. Além da matemática, ele virou fã de história. Hoje de manhã ele teria prova sobre a invasão holandesa no Brasil. No carro, como em todos os outros dias, íamos ouvindo rádio para poder acompanhar as notícias do trânsito:

      A seleção holandesa desembarcou no aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim, na Ilha do Governador, às 5 horas da manhã de hoje...


- Mamãe! que isso? Outra invasão holandesa???
- Não, Victor: SELEÇÃO holandesa.
- Ai, que susto! achei que tinha outra invasão da Holanda para roubar nosso açúcar e ouro...ufa, né?


      Hoje a seleção da Itália também desembarca no Galeão, mas segue diretamente para Angra dos Reis...

- Aí, tá ouvindo? a SELEÇÃO da Itália também está chegando para a copa.


  Nisso, Daniel pergunta, muito surpreso:

- Ué, a " world copa" vai ser aqui????
- Vai, meu amor. Você não sabia? Você até tem o álbum de figurinhas da copa do BRASIL, não é?
- E você comprou os ingressos pra gente ver o jogo sentado lá de verdade??? (sorriso enorme)
- Não, meu amor, não tem mais ingresso: acabou tudo.
- Mamãe, quantos ingressos eram?
- Sei lá, um montão.
- Mais de cem mil, né, mamãe? - pergunta Victor.
- Sei lá, acho que sim.



    Aí Dandan se aborrece de verdade:


- Pôxa, mamãe! Com TANTO ticket, você não comprou NENHUM???


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Essa mamãe é uma incompetente! :(

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

E continuo preocupada com o bilinguismo...

Quando decidi voltar pro Rio, tive várias dúvidas.

Preocupava-me a adaptação à nova escola, já que o sistema de ensino aqui é bem diferente do da Europa; preocupava-me a minha própria adaptação à nova realidade profissional: passar de funcionária pública na Holanda a bolsista sem nenhum direito trabalhista no Brasil; preocupava-me que eles não se acostumassem a morar numa casa (muito) menor; preocupava-me a drástica diminuição da convivência com o pai; preocupava-me o calor e a dengue etc etc etc. Mas o que mais me encafifava mesmo era como manter os idiomas a partir do momento da mudança, aqui no Brasil.

Além da falta do convívio diário com o inglês e o holandês, o povo brasileiro não está acostumado com crianças que falam fluentemente mais de um idioma. As pessoas acham que a criança fica confusa, que vai ficar mal na escola, que é algum tipo de tortura psicológica que pais sádicos fazem os pitchucos passarem e mais um inumerável rol de absurdos. E nào se encabulam ao falar sobre tudo isso, em tom de crítica, na frente dos pequenos...

A adaptação na escola está indo (quase) bem. Eles estão lendo e escrevendo o português e acompanham tudo normalmente, mas ainda sentem falta da Holanda e, vez por outra, perguntam quando vão voltar para a escola "deles".

O holandês falam entre eles e com o pai, quando este está de visita ao Brasil. Eu também trouxe alguns CD's e DVD's, mas eles ainda nào se interessaram em usar. Na TV eles só assistem em inglês...ainda bem que tem o botãozinho na NET pra colocar idioma original! Mas e para explicar pro Daniel que botão pra holandês não existe?

Mas como eu sei que o aprendizado passivo (vendo TV) é precário, tentei convencê-los a usar uma estratégia elaborada por quem vos escreve: mamãe.


- Meus amores, mamãe teve uma idéia legal!!!
- Qual???
- Todos os dias nós vamos falar em inglês por uma hora. Podemos cantar musiquinhas, ler os livrinhos, fazer brincadeiras e tal. O que acham?
- NÃO!!!
- Como assim?
- Estamos "na" Brasil e aqui a gente fala português!
- Mas Victor, e quando formos visitar a escola na Holanda? como você vai lembrar de inglês para falar com os amigos?
- Mamãe, eu "tem" memória muito boa!
- E eu também, mamãe!


Como temos um novo membro na família, dotado de 4 patas e que late, tentei outra estratégia:

- Gente, o Yoshi tem que aprender a falar inglês e holandês como a gente. Vamos conversar com ele em inglês todos os dias?
- Mamãe, ele é um cachorrinho brasileiro e estamos no Brasil: temos que ensinar potuguês para ele. Por isso que eu falo português com ele!
- Mas e como ele vai aprender outras línguas como nós?
- Daniel está falando com ele em holandês, você não sabe?
- Mas e o inglês?
- Mamãe, ele é cachorro. Ele nào é assim tão esperto para aprender 3 línguas. Duas já tá bom: é o máximo que ele aprende!


 Tinha até esquecido do assunto e fui conversar sobre outra coisa com eles:


- Olha, a mamãe vai ter que viajar por uns dias. Papai vai ficar aqui com vocês.

Dandan foi logo protestanto:

- Nào! eu nào quero que você vá! ou então me leva!
- Nào pode, meu amor: você tem escola.
- Onde você vai, mamãe? - pergunta Victor.
- Vou na Holanda. Lembra que eu disse que teria que voltar quando eles me chamassem para virar holandesa igual vocês dois? pois é...me chamaram e eu tenho que ir.
- Você vai ser "landesa" também, mamãe?
- Vou sim. Nào é legal?

Aí é que Daniel realmente fica indignado:

- OLHA AQUI, MAMÃE: EU NÃO "VAI"FALAR "LANDÊIS" COM VOCÊ!!!!



ok, ok, agora eles vão uma vez por semana a uma professora particular de inglês para conversar e ler. Fazer o que?

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Entendendo as famílias brasileiras

Victor anda se esforçando bastante para entender as relações humanas em Terras Canarinhas. E pela enésima vez eu tento apontar os exemplos:

- Mamãe, a gente vai agora pra casa da vovó do primo Pedro?

- Primeiro vamos encontrar a tia Clara no aeroporto. Lembra da tia Clara?

- A mamãe do Pedro?

- Não. Ela é a namorada do papai do Pedro. O primo Pedro mora com a mamãe e o PADRASTO e de vez em quando ele vai visitar o papai, que é o tio Roberto Cláudio. A tia Clara vai ter um neném, que vai ser irmã ou irmão do primo Pedro...e tia Clara vai ser a MADRASTA do Pedro. Tendeu? É bem legal, né? imagina ter 4 pessoas pra tomar conta da gente ao invés de só duas? ter duas casas, ganhar mais presentes de aniversário...

- E mais presente de natal!!! - completa Daniel.

- Sim, sim (...) mas então eu e Daniel também temos um padrastro!!!

- Tem? e quem é?

- O papai da Thamy, porque ela é minha irmã, ué!

- Não é assim que funciona, meu amor. É madrasta ou padrasto se morar com o papai ou com a mamãe.

- hmmm...então eu tenho uma madrasta!!!

- Tem? e quem é?

- É você, mamãe!!!

- Meu amor, lembra que mamãe e papai não moram mais na mesma casa? mamãe mora com você e Dandan e o papai vem visitar vocês dois.

- ah, é! eu esqueci!

- Além do mais eu já sou sua mamãe e não posso ser também sua madrasta.

- Não pode???

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E aí? alguma dica para explicar mais didaticamente? ;)

Que idioma você fala com seu(s) filho(s)?