terça-feira, 26 de julho de 2011

Pessoas invisíveis

Tem gente que é invisível, já notaram?

Obviamente que não, porque se invisível o são, como você notaria? Somente quem é ou quem já foi invisível é capaz de notar seus pares.

Eu já fui invisível por muito tempo. Por todos os anos da minha infância eu nunca tive uma imagem, nunca fui visível para as pessoas que me rodeavam. E daí eu criava um outro mundo, onde eu era real. Daí vem minha afinidade por livros, histórias, filmes e outras coisas do tipo. Mas ser invisível não é de todo ruim e tem lá suas vantagens também.

Acabada a infância, as pessoas foram fazendo com que eu ficasse mais visível e eu também fui ajudando a moldar essa pessoa real e recém nascida.

Hoje em dia tem horas que ainda gostaria de ser invisível, mas isso não é uma coisa que se escolhe: são os outros que escolhem para você. Bem, você dá uma ajudinha, mas só.

Aqui no meu trabalho existe um homem invisível.

Eu o noto, pois como já falei, também já fui invisível.

Ele está presente em todas as ocasiões: cafés diários, conversas, festas, passeios e tudo o mais. Ele vai, entra na roda de conversa, balança a cabeça o tempo todo em concordância, ri quando todos riem e olha para todos...como se fosse um mero expectador da vida que o cerca, mas que nunca vai ser sua.Ele nunca, ou quase nunca fala alguma coisa ou faz algum comentário e, nas raras ocasiões em que isso ocorre, ninguém nota mesmo (somente eu, pelos motivos acima apresentados).

O homem invisível lá do meu trabalho, já está no grupo há uns 20 anos e ninguém sabe exatamente o que ele faz. Ninguém sabia que era casado e sem filhos e nem onde morava. Eu perguntei e fui tentando mostrar para os outros que ele era uma pessoa real, mas sem muito êxito. Daí resolvi perguntar para alguns o que se passava:

- Sabe o "fulano"?
- Quem?
- Aquele assim e assado...
- Ah, sim, sei sim.
- No que que ele trabalha aqui no grupo?
- Er...hmmm...não sei! nunca tinha pensado nisso.
- Será que ele é casado?
- hahahaha...de onde você tirou isso, Adriana?


E isso depois de anos e anos trabalhando no mesmo grupo. Por que será que ninguém nunca o viu?

6 comentários:

Eliana disse...

Olha, na minha mais pessoal opinião, é fácil ser/ficar invisível entre os holandeses.Se você não se mete na conversa, não dá uma forçadinha de barra para escutarem o que vc tem a dizer, meu...já era, vc ficará sempre invisível rs Eu já reparei que quando um grupo se junta, parece um monólogo. Sim, uma única pessoa fala, fala e fala aí depois pode surgir uma outra e ela fala e fala e fala, mas aquela interação do assunto não há. Ou há mas depois se esgota a conversa e cada um vai para o seu quadrado e vive a sua vida no seu mundo particular. Há os que querem mesmo falar e há os que não querem. E os que falam não estão nem aí para os que não falam. A gente"brasileiro"ainda tenta fazer o que vc está tentando fazer em relação a este seu colega invisível...mas vc mesma já notou, não será tarefa fácil rs...talvez ele já tenha tentado, mas desistiu de querer competir e gastar a sua energia...se conformou com a sua invisibilidade! rs Bjs

Adriana disse...

OI, Eliana.

Você acha que é coisa holandesa? eu não acho não. Conheci mais pessoas invisíveis no Brasil que aqui (talvez por ter vivido mais tempo lá...rsrs).
Meu grupo de trabalho é bem falador e interage super-bem, tanto os holandeses quanto os estrangeiros. O colega invisível é holandês, inclusive.

Jaboticaba Preta disse...

O que a Eliana falou procede. É totalmente natural e aceitável ser invisível na sociedade holandesa. É comum as pessoas não terem contato com familiares diretos (pais, irmãos, avós) por anos a fio e nem se importarem de ao menos saber como estão. O que dizer então dos colegas de trabalho....
Você se lembra daquela família de irmãos que um deles estava morto na casa a muitos anos e nenhum deles notou? Tudo porque é da cultura daqui de se respeitar a individualidade. Naquele caso foi ao extremo. Talvez o teu colega seja feliz em não divulgar a vida privada. Mas tenha certeza, ele deve saber de altas fofocas cabeludas, pois apesar de não falar, ele ouve hehehhehe

Eliana disse...

Eu estava pensando na diferença. No Brasil a gente exclui.É diferente do invisível, se é que dá pra entender. A gente isola a pessoa por diversos motivos, dos mais bobos ao mais sérios. A gente faz de conta que não sabe nada dela. Às vezes nos negamos a comentar algo, mas no fundo todo mundo sabe da pessoa e se fala dela pelos cantos, bem baixinho, para não torná-la mais presente. Agora aqui na Holanda,se é invisível mesmo hahaha Por ex, se você chega num lugar onde não conhece as pessoas, aqui vc é que tem que se apresentar. Se vc não o faz, ninguém vem te perguntar algo ou te saldar e te pega pela mão pra te apresentar aos demais...Isso eu tenho comigo por experiência própria em certas rodas e já observei isso também com outras pessoas que, se, são desconhecidas e chegam numa festa, por exemplo. Ela é que tem que decidir se se faz presente ou se fica invisível rs...Se vc perguntar de tal pessoa, ninguém vai saber mesmo! rs...Bom acho que é essa a minha percepção no geral.

Adriana disse...

É, pode ser. Pensando no que vcs escreveram, acho que é mais ou menos isso mesmo.
Mas no grupo onde eu trabalho tem fofoca sim e MUITO...hahahaha
(não sabem nada da vida dele, mas fofocam)
Mas meu grupo tem muito estrangeiro e sempre teve, vai ver que é mais internacional, até mesmo a parte holandesa.
Vamos vcer quando eu começar no emprego novo (MEDO!)
bjs

Anônimo disse...

Muito legal seu texto. Eu também sempre fui invisível, acho que é só uma questão de personalidade mesmo. Algumas pessoas são muito expansivas e outras muito reservadas, e o restantes são as pessoas ditas normais.

Que idioma você fala com seu(s) filho(s)?