segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

E continuo preocupada com o bilinguismo...

Quando decidi voltar pro Rio, tive várias dúvidas.

Preocupava-me a adaptação à nova escola, já que o sistema de ensino aqui é bem diferente do da Europa; preocupava-me a minha própria adaptação à nova realidade profissional: passar de funcionária pública na Holanda a bolsista sem nenhum direito trabalhista no Brasil; preocupava-me que eles não se acostumassem a morar numa casa (muito) menor; preocupava-me a drástica diminuição da convivência com o pai; preocupava-me o calor e a dengue etc etc etc. Mas o que mais me encafifava mesmo era como manter os idiomas a partir do momento da mudança, aqui no Brasil.

Além da falta do convívio diário com o inglês e o holandês, o povo brasileiro não está acostumado com crianças que falam fluentemente mais de um idioma. As pessoas acham que a criança fica confusa, que vai ficar mal na escola, que é algum tipo de tortura psicológica que pais sádicos fazem os pitchucos passarem e mais um inumerável rol de absurdos. E nào se encabulam ao falar sobre tudo isso, em tom de crítica, na frente dos pequenos...

A adaptação na escola está indo (quase) bem. Eles estão lendo e escrevendo o português e acompanham tudo normalmente, mas ainda sentem falta da Holanda e, vez por outra, perguntam quando vão voltar para a escola "deles".

O holandês falam entre eles e com o pai, quando este está de visita ao Brasil. Eu também trouxe alguns CD's e DVD's, mas eles ainda nào se interessaram em usar. Na TV eles só assistem em inglês...ainda bem que tem o botãozinho na NET pra colocar idioma original! Mas e para explicar pro Daniel que botão pra holandês não existe?

Mas como eu sei que o aprendizado passivo (vendo TV) é precário, tentei convencê-los a usar uma estratégia elaborada por quem vos escreve: mamãe.


- Meus amores, mamãe teve uma idéia legal!!!
- Qual???
- Todos os dias nós vamos falar em inglês por uma hora. Podemos cantar musiquinhas, ler os livrinhos, fazer brincadeiras e tal. O que acham?
- NÃO!!!
- Como assim?
- Estamos "na" Brasil e aqui a gente fala português!
- Mas Victor, e quando formos visitar a escola na Holanda? como você vai lembrar de inglês para falar com os amigos?
- Mamãe, eu "tem" memória muito boa!
- E eu também, mamãe!


Como temos um novo membro na família, dotado de 4 patas e que late, tentei outra estratégia:

- Gente, o Yoshi tem que aprender a falar inglês e holandês como a gente. Vamos conversar com ele em inglês todos os dias?
- Mamãe, ele é um cachorrinho brasileiro e estamos no Brasil: temos que ensinar potuguês para ele. Por isso que eu falo português com ele!
- Mas e como ele vai aprender outras línguas como nós?
- Daniel está falando com ele em holandês, você não sabe?
- Mas e o inglês?
- Mamãe, ele é cachorro. Ele nào é assim tão esperto para aprender 3 línguas. Duas já tá bom: é o máximo que ele aprende!


 Tinha até esquecido do assunto e fui conversar sobre outra coisa com eles:


- Olha, a mamãe vai ter que viajar por uns dias. Papai vai ficar aqui com vocês.

Dandan foi logo protestanto:

- Nào! eu nào quero que você vá! ou então me leva!
- Nào pode, meu amor: você tem escola.
- Onde você vai, mamãe? - pergunta Victor.
- Vou na Holanda. Lembra que eu disse que teria que voltar quando eles me chamassem para virar holandesa igual vocês dois? pois é...me chamaram e eu tenho que ir.
- Você vai ser "landesa" também, mamãe?
- Vou sim. Nào é legal?

Aí é que Daniel realmente fica indignado:

- OLHA AQUI, MAMÃE: EU NÃO "VAI"FALAR "LANDÊIS" COM VOCÊ!!!!



ok, ok, agora eles vão uma vez por semana a uma professora particular de inglês para conversar e ler. Fazer o que?

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